SERÁ TRISTEZA?
Gésner Batista
Ver, gostar, entender
Nada disso me pertence;
Nem sei se estar a ver
Está dentro do que eu pense...
Essa água que eu bebo
É doce, é pura, é nova?
Qual certeza que concebo,
Se sou eu que a ponho a prova?
Esse vinho de valor
Sem enólogo não o sei;
Como saber seu sabor,
Se só eu que o provei?
Por que um passar de ave
Ou o sujo de uma mesa:
Um desperta-me a tristeza;
Outro, nada que a lave?
E esse sino da Matriz
A badalar nos meus ouvidos,
Por que não bate feliz,
Mas só em tristes gemidos?
Por que a flor que amanheceu
Tão escandalosa aberta
Traz a noite que morreu
E não a manhã tão certa?
Será porque eu não vejo
O que fora me revela,
E o meu olhar é ensejo
De mostrar-me outra tela?